Domingo na casa da minha mãe
Domingo na casa da minha mãe,
Trav. Sanches Oliveira, 370, centro, Afuá/PA
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Cozinha da Dal |
Hoje é o último domingo do ano. Por mais que pareça que, nos últimos dias, todo dia é domingo por conta das festas e comemorações, hoje é um domingo diferente. Nos domingos anteriores, eu estava lá em casa, no Nordeste, tomando um café demorado e ligando para quem mora aqui, nesta casa, nesta ilha. Às vezes, chorava de saudade e de tantas outras coisas — a gente vai aproveitando e chorando logo por tudo. Chorar ou estar triste aos domingos, para quem mora longe dos seus, é quase uma rotina. O domingo carrega um sentir, um cheiro, um barulho e, até mesmo, um gosto. É nesse dia da semana que almoçamos melhor, tomamos Coca-Cola e comemos sobremesas, ouvimos samba, e parece que ele faz mais sentido nesse dia, não é?
Aos domingos, eu deixo de ser forte, me visto de algo diferente dos outros dias; acho que me visto de gente. Me vestir de gente me deixa mais pessoa, de carne, sem postura ereta, sem músculos enrijecidos, sem olhos atentos mirando horizontes. No domingo, sou apenas carne, sangue e sentir, mole, como algo que quase escorre entre os dedos, que precisa ser acomodado entre as mãos com cuidado, sou mais poesia, é assim.
Este domingo de hoje é um domingo que eu procurava nas lembranças. Sentir tudo isso e estar aqui, nesta casa, deixa meu coração calmo, não em paz, mas calmo, não há paz dentro do peito de uma mulher. Mas nada aqui dentro dói tanto, o afeto dos meus me deixa desprender um pouco dessa persona que sai da minha cara, meus pés podem descansar e serem lavados, meus cabelos podem estar mais soltos, e meus olhos podem apenas vagar — vagar por cada detalhe desta casa, que, sempre que volto, está diferente e eu sempre que volto, também nunca sou a mesma. Meu corpo adormece na possibilidade descansar no afeto dos meus.
Que bom poder voltar aqui e passar dias de amor, encontros, músicas e rios.
Espero que tenhas força, porém, mais do que isso, coragem também: coragem para se permitir ser mais gente, gente que sente e que se permita ser cuidada.
"Penso que
Se domingo fosse uma parte da casa, ele seria a cozinha.
Se fosse uma parte de nós, ele seria a saudade.
Se fosse algo tão bom quanto ele já é
Seria samba, pra gente sambar. "
Bárbara Primavera
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